O som do despertador tirou-me de um sono bom e de um sonho idem. Ainda que fosse difícil deixar o conforto da cama e o calor dos cobertores, havia a necessidade de enfrentar o frio que fazia lá fora, não havia como deixar de sair de casa e enfrentar mais um dia de trabalho. Vagarosamente levantei-me e, dirigindo-me ao banheiro analisei minhas possibilidades, no tocante a roupas e, de antemão sabendo que não havia muito que escolher, optei pelo básico camisa e calça social. Depois de um banho rápido (está frio), um café acompanhado de um pedaço de pão com qualquer coisa, corro pelas ruas até o ponto do ônibus torcendo para que o mesmo não esteja nessa manhã, como de hábito, lotado, e que o trânsito flua melhor, esperança que logo se esvai ao ver a fila de pessoas que, assim como eu todos os dias espremem-se e são espremidas nos ônibus e trens de uma cidade grande. Dentro do ônibus, sacolejando daqui e dali, sendo empurrado a cada parada, a cada “freada”, até tento não pensar no desconforto, tento até levar na “esportiva”, a pista está tranqüila, mas o motorista anda em câmera lenta, o ônibus caindo aos pedaços mesmo assim fazendo arrastão de passageiros, e meu senso de humor vai acabando aos pouco logo cedo, mas penso, amanhã é dia do trabalhador e me contento como prêmio de consolação.
“O trabalho é como barbear-se. Não interessa se você fez um ótimo trabalho hoje, terá que repetir a performance amanhã”
Poeta do absurdo